inteligência é algo fixo e, por alguma razão, alguns grupos raciais ou sociais são mais inteligentes que outros. E a simples verbalização de que um determinado grupo é inferior (como mulheres ou afrodescendentes) pode influenciar negativamente a performance acadêmica dos membros desses grupos. A psicóloga social Claude Steele e outros autores, em um trabalho publicado em 2002, chamaram isso de “a ameaça do estereótipo no desempenho intelectual”.
Outro grupo de pesquisadores (Aronson, Fried e Good, em um trabalho de 2001) desenvolveu um possível “antídoto” para esse tipo de ameaça. Eles indicaram grupos de estudantes de minorias (entre eles, estudantes negros e descendentes de europeus que estudavam nos EUA) a entender a inteligência como algo mutável, em contraposição a uma ideia de inteligência fixa – algo que diversos estudos indicam ser verdadeiro. Um segundo grupo de estudantes, usado como controle – para efeito de comparação dos resultados – não recebeu esse tipo de informação.
Aqueles estudantes que aprenderam sobre a plasticidade da inteligência melhoraram suas notas, em comparação aos estudantes que não sabiam sobre a teoria. O grupo principal do estudo também passou a valorizar mais o aprendizado. E o mais interessante foi que os estudantes negros pareceram se beneficiar mais ainda das informações sobre a plasticidade da inteligência do que os outros grupos, demonstrando o efeito protetor desse tipo de intervenção para contrapor a ameaça do estereótipo.
A pesquisa mostrou um modo relativamente fácil de nivelar positivamente a diferença entre os desempenhos acadêmicos observados entre grupos étnicos vítimas de estereótipos. Entender que a inteligência pode ser modificada pode realmente melhorar os desempenhos intelectuais de alguns indivíduos, especialmente entre aqueles grupos vistos de forma estereotipada como menos inteligentes (a exemplo do que acontece com as mulheres, vistas como menos hábeis com matemática e ciências exatas).
Aplicações práticas
Esse experimento foi replicado por outro grupo de pesquisadores (Blackwell, Dwek e Trzesniewski em 2002). O grupo aplicou os mesmos métodos indicados em estudos anteriores em estudantes dos últimos anos ao ensino fundamental. Durante oito semanas esses alunos aprenderam sobre a plasticidade intelectual, lendo e discutindo sobre artigos científicos sobre o desenvolvimento da inteligência. Um grupo controle também se reunia, mas aprendia sobre memória e estratégias mnemônicas de retenção de informação.
Quando comparados ao grupo controle, estudantes que haviam aprendido sobre plasticidade intelectual apresentavam maior motivação acadêmica, melhores níveis de comportamento e maiores notas em matemática. Aliás, os estudantes membros de grupos vulneráveis à ameaça de estereótipo melhoraram consideravelmente suas notas em matemática após a intervenção, enquanto os estudantes do grupo controle viram suas notas diminuírem com o passar do tempo. No caso das meninas, essa melhora nas notas foi ainda mais evidente comparada às garotas do grupo controle (que tiveram desempenho muito abaixo dos garotos do mesmo grupo).
Os dados são especialmente relevantes, pois a intervenção foi considerada breve (apenas três horas no total). O custo-benefício desse tipo de método para melhorar a motivação e engajamento acadêmico é, portanto, extremamente positivo, finalizam os autores.
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Créditos: este material aparece originalmente em inglês como Believing You Can Get Smarter Makes You Smarter. Copyright © 2010 da American Psychological Association (APA). Traduzido e reproduzido com permissão. A APA não é responsável pela exatidão desta tradução. Esta tradução não pode ser reproduzida ou, ainda, distribuída sem permissão prévia por escrito da APA