Imaginando que eu estava grávida, aliás, com sintomas de gravidez, comecei por um processo intenso entre exames e visitas as lojas para comprar roupinhas de bebê e brinquedos, pois enfim meu sonho se tornara realidade eu ia ser mãe, mas aprendi que nem tudo seria como eu planejara esse querer não dependia exclusivamente de mim, existiam outros planos, outros caminhos que eu deveria percorrer para chegar onde deveria estar. Enfim um sonho interrompido quando em uma ultrassonografia descobri que não havia bebê e que na verdade eu estava com câncer.
Mas eu só tinha vinte e quatro anos, novinha assim e com um fardo deste tamanho. Num misto de desespero, angústia e a sensação de sentir a morte a espreita, comecei a questionar o que eu poderia fazer para continuar viva. Tudo muito obscuro como se fosse algo que pudesse acontecer com os outros menos comigo e se estava acontecendo comigo, por que eu? No primeiro momento apenas chorei e a sensação de que poderia morrer a qualquer momento continuava sem trégua. Eu não estava preparada para morrer tinha ainda tanto por fazer, muito para conquistar e muitos sonhos e desejos para serem realizados.
Mas, como não existe livre arbítrio para fazer ou não o tratamento, o processo terrível iniciou. Cada sessão de quimioterapia era um martírio, tudo novidade, fiquei em pânico no início tinha vontade de sair correndo, assim como fazem as crianças quando vão tomar injeção, mas eu não tinha escolha era viver ou morrer. Escolhi viver e assim começaram as torturas do processo da cura tão esperada, nos braços um soro com cálcio, outro com potássio e outro com medicamento contra o câncer, minha boca cheia de afta sangrava, principalmente na hora de comer, meus cabelos caíram, meus cílios, sobrancelhas e todos os outros pelos do corpo. Fiquei feia, inchada, pálida, sem vida.
Às vezes ficava internada trinta dias sem sair do hospital, o tratamento não estava respondendo, precisei fazer aplicação do medicamento na coluna, pensava, acho melhor morrer logo do que passar por essa agonia, o hospital tinha cheiro de holocausto era como se existisse uma lista de Schindler e a qualquer momento a próxima seria eu. Via colegas que estavam internadas no mesmo hospital morrendo e eu a espera de ser a próxima a qualquer momento, por mais otimista que eu era em alguns momentos fraquejava, chorava e não me sentia mais forte e já não acreditava que Deus estava me amparando.
E assim continuava minha saga várias vezes no hospital, muitas sessões de quimioterapia, na verdade, foram quarenta e oito sessões, muitos laboratórios, exame do líquor o qual é feito através de punção na região lombar da coluna e assim continuava dor e mais dor.
No entanto, aos poucos um fato importante aconteceu, uma transformação na minha vontade de viver, comecei enfrentar a doença de uma forma mais positiva, acreditava que iria ser curada não sofria muito apesar de tudo, apesar de que a medicação acarretava muito mais efeitos colaterais. Comecei acreditar que a minha fé, a minha vontade de viver me curaria, que eu ainda poderia fazer tudo o que tinha vontade, que eu ainda tinha uma vida pela frente, que dias ensolarados e brilhantes eu poderia sentir.
Dessa forma, finalmente fiz a última sessão de quimioterapia no final de 2000. Confesso que demorou cinco anos para eu realmente me sentir curada. Fiquei um longo tempo procurando respostas sobre as seqüelas que o tratamento havia deixado até hoje não as encontrei, pois as dores no corpo, na coluna e nas pernas são constantes, é impossível esquecer o quão devastadora é a medicação, minha imunidade é baixa, qualquer gripe poderia me deixar de cama mas, aprendi a conviver com a dor e me sentir viva de verdade todos os dias quando acordo agradeço a Deus por ter renascido e principalmente por ele ter me permitido continuar vivendo. Pois meu viver é assim um dia de cada vez, sonhando, amando, vivendo e vivendo com muita alegria sempre.
Cléo Santana
Articuladora EAD – UIASSELVI
Articuladora EAD – UIASSELVI